Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde
mandalagibi
desdobramentos de enxuto blogue "filoporesquema" para expansões oficineiras da informação curricular
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Desenhistas, artistas e estudiosos de Histórias em Quadrinhos numa Feira do Livro de Porto Alegre
"Ler e escrever" é armazenar e transpor: muita coisa acontece entre uma coisa e outra, se anota, se projeta, se realiza – ou não. Eventualmente emitimos mensagens mobilizando essas observações, pedindo palpites, que não raro demoram. Mas como publicar também é preciso, faço uma consideração estética para inserir relato de evento (cujos momentos iniciais o blogue teria transmitido via web) I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos, que penso oportuno para alguns interesses em arte e comunicações, educação e política, mesmo que os debates entrem eventualmente no mérito da organização tradicional de uma empresa jornalística ou revista, e que minha síntese os abreviem bastante, refletindo enfoques que não deveriam ser tomados como simplesmente pessoais. A verdade é que estou devendo também no sentido de programas de intercâmbio, após uma falha grave com um raro e precioso evento neste sentido, a bem sacada e bolada Olimpíada de Filosofia no Estado, muito basicamente agendando e difundindo eventos culturais, não só passados como vindouros (como esta feira do livro anarquista começando amanhã!). Façam suas escolhas, seus “investimentos”, aprendendo com o(s) ato(s) falho(s). Me sinto eternamente obrigado a ser agradecido pelo apoio de quem eu deveria ter apoiado e protegido, e a seguir lutando contra a desmemória e a covardia.
(As fotografias acima são de uma I Bienal de Histórias em Quadrinhos do RJ, 1991, com Carlos Ferreira, Walter "Pax" Jr., Vinícius Martins, Ethon Fonseca e Moacir Martins)
Escolher e tocar discos?
Quem curte uns sons sabe quanto que essas coisas tem hora, gostos não são estanques, se constituem com repertórios, em todo um processo organizativo. Montar a sua listagem musical, buscar a vibração, é diverso de engolir o que se empurra na primeira esquina ou pergunta sobre o teu estilo de consumo, a tua preferência. Falar dessas vivências é outra habilidade, que poderia ir muito além dos mercados e suas fronteiras fazendo alguns ouvidos de pinico, ou pior, se furtando até mesmo ao digno corpo-a-corpo humano de um espaço sonoro. Se convencer é infecundo, como teria apontado Walter Benjamin, memória e história seguem sendo reelaboradas até ao remontarem a fontes (ou conhecendo Júlio José Chiavenato na biblioteca, que parece ter seu As lutas do povo brasileiro (editora Moderna, São Paulo), no mínimo) e até por linhagens poéticas cruzando informações refletidas e contextualizados dados, em rios dos objetivos mais sensacionais para um humanismo contemporâneo. A palavra segue prisma das luzes lançadas sobre o futuro, política, liberdade e conjunto de boas escolhas em vigor e/ou andamento, escrevendo, constituindo canais itinerantes dos roteiros modernos até de encenações visuais, até de cantilenas das quais não escapamos.
Imprensa modernista
Estive frequentando o I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos onde reencontrava gente boa e conhecia alguns viajantes, como algum pós-graduado, com currículo próprio em “Jornalismo Literário”, que me lembrou a curiosa associação entre as linhas de imprensa que pretendem revelar um processo de produção (um “novo jornalismo” de Gay Talese, Capote, etc.) e a denúncia cinematográfica de um “Tropa de Elite II” descrevendo processos de formação de grupos que disputam o poder e da guerra pela sua manutenção (Gay Talese puro, segundo o amigo Gibran T. Dipp (http://bogart-e-bobagens.blogspot.com/), e deve ser mesmo, admirando por rede social o “trazer pra arte mais vida e realidade, sempre complexa, do que os filmes normalmente querem mostrar”). Ricas indicações e leituras, que tanto ajudam a entender, é o que vamos angariando e fazendo acontecer nas escolas (e pelas pretensões de vida mais ativa e ação mais consequente), ou não?
O espião que amava a cidade
Cheguei no debate sobre ficção ou não-ficção, com dois artistas mui distintos, um retratando o seu olhar das ruas e localidades diversas das cidades, incansavelmente, o outro cético quanto à possilidade dessas interpretações (ou tantas outras) gerarem registros “não-ficcionais” mais reveladores. Jens Harder tem mais livros publicados, geralmente participando de coletivos, e prêmios, ou mesmo bolsas para projetos, frequentemente apresentados como reportagem em quadrinhos, como no alltagsspionage – comicreportagen aus Berlin, onde contrasta nas faixas/tiras de suas páginas supostas equivalências de lugares, como hotéis da sua cidade, restaurantes, conversando e estendendo aos leitores a conversa e suas viagens. Trabalha frequentando, apurando e depurando em estúdio, o que leva mais um tempo. Outra publicação sua é um panorâmico painel que continua na página seguinte e assim por diante o livro inteiro, sobre uma cidade turística na Suíça, Basel. Onde foi obrigado a emitir um juízo de valor explícito na composição foi quando de um mês em Israel retratando o cenário que três religiões consideram como o coração do mundo, um bilhete premiado, uma passagem para Deus (nome do trabalho: A Ticket to God), inserindo cenas do “impagável” A Vida de Brian sobre a relação de fiéis com o messias “eleito” no caso. Muitos lugares parecem ter histórias conhecidas, disponíveis para quem procura, mesmo em se perguntando casualmente, aliás. Se é preciso diploma de jornalista? Naquele país europeu, diploma é apenas para profissões que lidam com o risco de vida, mas seguramente ajuda para entrar no ramo. Há de se entender demandas e modos de respeitá-las mesmo silenciosamente, ou quando o silêncio é perturbado por ruídos ou falatórios. Com dois expedientes acompanhando por tradutor-intérprete os relatos de Jens Harder, que achei atento e atencioso, curti ineditamente sua pronúncia da língua alemã: a suavidade notável no fôlego, os timbres e ritmos. Universal é o efeito hêêê..., mas dizem que é a dor que ensina a gemer, então faz parte das experiências aqui e ali disponibilizadas, e através de algo que leiga mas interessadamente me parece uma literatura de viajante, salvo que “Reportagem” soa ter o recorte mais específico do que os diversos e sortidos que também se encontram em crônicas, como que sem maior comprometimento ou conceito expressivo. Com a abundância de informações e pautas desencadeadas em proposições artísticas e viagens, o resultado vai ficando crítico, posto serem as sínteses informadas e as conclusões correspondentes, de alguma forma declaradas.
Saio para o intervalo e pego um elevador, cuja porta reabre por conta de um sensor muito abelhudo – tsk, mas que barato esses giros tecno-civilizatórios da aprendizagem, entre vários outros cuidados importantes
“Trabalhar, nós não trabalhemos, né?”
Chovisca ao longo do alto edifício de vidros e ares condicionados, vejo numa pequena área lateral com cheirinho de vegetação, ou talvez de eucalipto mesmo. Por R$ 1,00 se toma um chocolate quente, ou mesmo um capuccino da máquina, essas coisas.
Alguém pergunta se o viés plural e crítico interferiria na verossimilhança ou com os pés no chão da realidade, como que comprando ingenuamente um enredo de “não-ficção”. As tomadas são várias, quase cinematográficas, de lugares e posição, mas parecem ir passando em brancas nuvens. As transposições, os retratos e reflexos praticamente instantâneos de momentos nos desenvolvimentos locais e humanos nos trazem um recorte narrativo de produção relativamente lenta para ritmos jornalísticos.
Mais salas de redação e formas de pesquisa
O tema das temporalidades e dos estilos dramáticos, especialmente enquanto dinâmicas de mídias noticiosas, seria retomado em diversas ocasiões ao longo dos encontros com os brasileiros, que como os italianos enfrentamos simultaneamente embargos de uma rede corporativa de interesseiros dominando o mercado estratégico da informação e uma necessidade profissional por desenvolvimentos de iniciativa. Segundo Aristides Dutra, designer gráfico na Fiocruz, professor, mestre na UFRJ com dissertação sobre jornalismo em quadrinhos, etc. (fazendo um papel de “advogado do diabo”), os quadrinhos que se vem publicando em áreas mais variadas dos jornais, além das próprias charges, tiras e infográficos, como em crônicas, editoriais, reportagens, críticas opinativas e entrevistas, só acontecem e seguirão acontecendo quando o espaço, usualmente ocupado por múltiplas reportagens, ou anúncios, é tomado como vantajosamente aproveitado por uma narrativa em quadrinhos pelo editor, que frequentemente precisa ser convencido, pois sua tarefa é dizer não, e não sim e não, mas, basicamente, não – e, apenas talvez, e eventualmente, pequenos sins. “Tem até notícia nos jornais”, sabemos, mas assim é que funciona... Não esqueceu-se de “Avenida Brasil”, de Paulo Caruso, que semanalmente e em cores, numa revista (Isto É) para amplo público, satirizava acontecimentos políticos com caricaturas em quadrinhos.
o horror “na pele” e o ketchup
Aliás, sabemos que frequentemente os ilustradores não fazem parte de equipes que vão trabalhar em coberturas de guerra, ou no encalço de investigações policiais, embora possam estar autorizados a presenciarem julgamentos onde a entrada de fotógrafos é vedada. Em que momentos seria mais interessante o recurso às narrativas gráficas, para uma “grande imprensa”? Para refletir a experiência atual, com seus “resultados e processos”, como nos lembra Aristides, Felipe Muanis, jovem doutor (Comunicação Social pela UFMG) com experiência profissional e de estudos em ilustração, produções audiovisuais e Mídias Digitais, jornalismo e direção de arte (www.felipemuanis.com), lembra do tema dos interesses despertados pelas cenas mais catastróficas e doloridas, brilhantemente desenvolvido por Susan Sontag em “Diante da dor dos Outros”. A mídia, em suas diversas codificações tacitamente acordadas com o público, e em seus interesses mercadológicos, lida com registros do bom gosto, onde excluem-se expressões de um horror mais cruento, como o de vísceras saindo de vítimas, que simplesmente nos faria estranhar, por exemplo, os anúncios de quétchupe nas páginas seguintes. Em “Gen”, a história de um sobrevivente de explosão nuclear no Japão, as vivências mais torturantes eram descritas claramente, num estilo de cartum, e bastante informativo, passando por um outro registro, por outras formas de veicular a informação, relevante e auto-biográfica. Neste caso também se opera com eventos que não possuem outro registro. A conversa envolve o Spacca (João S. de Oliveira), cartunista e autor de quadrinhos, inclusive biográficos e de época, encontráveis em bibliotecas de Escolas públicas (www.spacca.com.br), e explicações de Aristides sobre tamanhas diferenças do registro jornalístico (“A foto reduz à aparência, e o jornal não está preso a isto!”), mas segue apontando para níveis de verossimilhança e elaborações éticas na lida com imagens, que são comparadas com o texto enquanto reinterpretação desenvolvendo estilisticamente recursos de expressão, subjetividades.
Há muitos mitos blindando a figura do consumidor, como alguém que compra um direito à objetividade, à atualidade informativa, mas que raio de atualização seria essa que envelhece, frequentemente mal, como registro histórico? Ou o registro histórico seria uma outra questão, depurativa, e em outra escala, como sugere Atak (Hans Georg Barber)? Conforme reportagens mais zelosas são produzidas, por exemplo, acredita-se que modifiquem quadros mais dramáticos e instantâneos da TV, em movimentos logrando expressividade que pode nem se pretender “da realidade”, mas abordagem, e de observações que podem, tranquilamente, ser eloquentes.
Maiores viagens
Mesmo o cético Atak muito admira o entusiasmo praticamente devocional de todo um pessoal na área. Serei otimista: o desafio podem não ser um maior problema se o fazemos ser entendido, e abordado num cruzamento adequado de linhas de pensamento e informações, exponencialmente. Mas saberemos mesmo desenvolver trabalhos em equipe(s)? As pesquisas podem ser realizadas, ensina Aristides, com as ferramentas da própria área de investigação do tema estudado (“Histórias em Quadrinhos” ou “Jornalismo”), ou no ajuizamento de um campo pela disciplina de outros (o “jornalismo em quadrinhos” estudado pelo viés da linguística – digamos da literatura, mas isto provavelmente transformaria todo o jeito do próprio assunto...).
A contribuição de Jens Harder é um exemplo de grupos e viagens, aproveitando datas e eventos, financiamentos e até sítios turísticos, mas não raro conduzindo seus próprios meios de difusão, gerando discussão sobre as relevâncias – intra e extra-específicas à “mídia” das revistinhas, mas sobretudo mundanas, como torcidas (alemã, na Suíça, no caso) de futebol ou mesmo passeios pelas paisagens da “boa vida” de um outro artista do grupo a debulhar a cidade. Neste ramo, o sujo e o edificante ainda se relacionam: como esferas culturais, cronogramas, bairros e olhares – e como busquei relacionar os temas, como que transversais, que pude presenciar e acompanhar, mesmo numa frequência falhada ao evento...
(As fotografias acima são de uma I Bienal de Histórias em Quadrinhos do RJ, 1991, com Carlos Ferreira, Walter "Pax" Jr., Vinícius Martins, Ethon Fonseca e Moacir Martins)
Escolher e tocar discos?
Quem curte uns sons sabe quanto que essas coisas tem hora, gostos não são estanques, se constituem com repertórios, em todo um processo organizativo. Montar a sua listagem musical, buscar a vibração, é diverso de engolir o que se empurra na primeira esquina ou pergunta sobre o teu estilo de consumo, a tua preferência. Falar dessas vivências é outra habilidade, que poderia ir muito além dos mercados e suas fronteiras fazendo alguns ouvidos de pinico, ou pior, se furtando até mesmo ao digno corpo-a-corpo humano de um espaço sonoro. Se convencer é infecundo, como teria apontado Walter Benjamin, memória e história seguem sendo reelaboradas até ao remontarem a fontes (ou conhecendo Júlio José Chiavenato na biblioteca, que parece ter seu As lutas do povo brasileiro (editora Moderna, São Paulo), no mínimo) e até por linhagens poéticas cruzando informações refletidas e contextualizados dados, em rios dos objetivos mais sensacionais para um humanismo contemporâneo. A palavra segue prisma das luzes lançadas sobre o futuro, política, liberdade e conjunto de boas escolhas em vigor e/ou andamento, escrevendo, constituindo canais itinerantes dos roteiros modernos até de encenações visuais, até de cantilenas das quais não escapamos.
Imprensa modernista
Estive frequentando o I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos onde reencontrava gente boa e conhecia alguns viajantes, como algum pós-graduado, com currículo próprio em “Jornalismo Literário”, que me lembrou a curiosa associação entre as linhas de imprensa que pretendem revelar um processo de produção (um “novo jornalismo” de Gay Talese, Capote, etc.) e a denúncia cinematográfica de um “Tropa de Elite II” descrevendo processos de formação de grupos que disputam o poder e da guerra pela sua manutenção (Gay Talese puro, segundo o amigo Gibran T. Dipp (http://bogart-e-bobagens.blogspot.com/), e deve ser mesmo, admirando por rede social o “trazer pra arte mais vida e realidade, sempre complexa, do que os filmes normalmente querem mostrar”). Ricas indicações e leituras, que tanto ajudam a entender, é o que vamos angariando e fazendo acontecer nas escolas (e pelas pretensões de vida mais ativa e ação mais consequente), ou não?
O espião que amava a cidade
Cheguei no debate sobre ficção ou não-ficção, com dois artistas mui distintos, um retratando o seu olhar das ruas e localidades diversas das cidades, incansavelmente, o outro cético quanto à possilidade dessas interpretações (ou tantas outras) gerarem registros “não-ficcionais” mais reveladores. Jens Harder tem mais livros publicados, geralmente participando de coletivos, e prêmios, ou mesmo bolsas para projetos, frequentemente apresentados como reportagem em quadrinhos, como no alltagsspionage – comicreportagen aus Berlin, onde contrasta nas faixas/tiras de suas páginas supostas equivalências de lugares, como hotéis da sua cidade, restaurantes, conversando e estendendo aos leitores a conversa e suas viagens. Trabalha frequentando, apurando e depurando em estúdio, o que leva mais um tempo. Outra publicação sua é um panorâmico painel que continua na página seguinte e assim por diante o livro inteiro, sobre uma cidade turística na Suíça, Basel. Onde foi obrigado a emitir um juízo de valor explícito na composição foi quando de um mês em Israel retratando o cenário que três religiões consideram como o coração do mundo, um bilhete premiado, uma passagem para Deus (nome do trabalho: A Ticket to God), inserindo cenas do “impagável” A Vida de Brian sobre a relação de fiéis com o messias “eleito” no caso. Muitos lugares parecem ter histórias conhecidas, disponíveis para quem procura, mesmo em se perguntando casualmente, aliás. Se é preciso diploma de jornalista? Naquele país europeu, diploma é apenas para profissões que lidam com o risco de vida, mas seguramente ajuda para entrar no ramo. Há de se entender demandas e modos de respeitá-las mesmo silenciosamente, ou quando o silêncio é perturbado por ruídos ou falatórios. Com dois expedientes acompanhando por tradutor-intérprete os relatos de Jens Harder, que achei atento e atencioso, curti ineditamente sua pronúncia da língua alemã: a suavidade notável no fôlego, os timbres e ritmos. Universal é o efeito hêêê..., mas dizem que é a dor que ensina a gemer, então faz parte das experiências aqui e ali disponibilizadas, e através de algo que leiga mas interessadamente me parece uma literatura de viajante, salvo que “Reportagem” soa ter o recorte mais específico do que os diversos e sortidos que também se encontram em crônicas, como que sem maior comprometimento ou conceito expressivo. Com a abundância de informações e pautas desencadeadas em proposições artísticas e viagens, o resultado vai ficando crítico, posto serem as sínteses informadas e as conclusões correspondentes, de alguma forma declaradas.
Saio para o intervalo e pego um elevador, cuja porta reabre por conta de um sensor muito abelhudo – tsk, mas que barato esses giros tecno-civilizatórios da aprendizagem, entre vários outros cuidados importantes
“Trabalhar, nós não trabalhemos, né?”
Chovisca ao longo do alto edifício de vidros e ares condicionados, vejo numa pequena área lateral com cheirinho de vegetação, ou talvez de eucalipto mesmo. Por R$ 1,00 se toma um chocolate quente, ou mesmo um capuccino da máquina, essas coisas.
Alguém pergunta se o viés plural e crítico interferiria na verossimilhança ou com os pés no chão da realidade, como que comprando ingenuamente um enredo de “não-ficção”. As tomadas são várias, quase cinematográficas, de lugares e posição, mas parecem ir passando em brancas nuvens. As transposições, os retratos e reflexos praticamente instantâneos de momentos nos desenvolvimentos locais e humanos nos trazem um recorte narrativo de produção relativamente lenta para ritmos jornalísticos.
Mais salas de redação e formas de pesquisa
O tema das temporalidades e dos estilos dramáticos, especialmente enquanto dinâmicas de mídias noticiosas, seria retomado em diversas ocasiões ao longo dos encontros com os brasileiros, que como os italianos enfrentamos simultaneamente embargos de uma rede corporativa de interesseiros dominando o mercado estratégico da informação e uma necessidade profissional por desenvolvimentos de iniciativa. Segundo Aristides Dutra, designer gráfico na Fiocruz, professor, mestre na UFRJ com dissertação sobre jornalismo em quadrinhos, etc. (fazendo um papel de “advogado do diabo”), os quadrinhos que se vem publicando em áreas mais variadas dos jornais, além das próprias charges, tiras e infográficos, como em crônicas, editoriais, reportagens, críticas opinativas e entrevistas, só acontecem e seguirão acontecendo quando o espaço, usualmente ocupado por múltiplas reportagens, ou anúncios, é tomado como vantajosamente aproveitado por uma narrativa em quadrinhos pelo editor, que frequentemente precisa ser convencido, pois sua tarefa é dizer não, e não sim e não, mas, basicamente, não – e, apenas talvez, e eventualmente, pequenos sins. “Tem até notícia nos jornais”, sabemos, mas assim é que funciona... Não esqueceu-se de “Avenida Brasil”, de Paulo Caruso, que semanalmente e em cores, numa revista (Isto É) para amplo público, satirizava acontecimentos políticos com caricaturas em quadrinhos.
o horror “na pele” e o ketchup
Aliás, sabemos que frequentemente os ilustradores não fazem parte de equipes que vão trabalhar em coberturas de guerra, ou no encalço de investigações policiais, embora possam estar autorizados a presenciarem julgamentos onde a entrada de fotógrafos é vedada. Em que momentos seria mais interessante o recurso às narrativas gráficas, para uma “grande imprensa”? Para refletir a experiência atual, com seus “resultados e processos”, como nos lembra Aristides, Felipe Muanis, jovem doutor (Comunicação Social pela UFMG) com experiência profissional e de estudos em ilustração, produções audiovisuais e Mídias Digitais, jornalismo e direção de arte (www.felipemuanis.com), lembra do tema dos interesses despertados pelas cenas mais catastróficas e doloridas, brilhantemente desenvolvido por Susan Sontag em “Diante da dor dos Outros”. A mídia, em suas diversas codificações tacitamente acordadas com o público, e em seus interesses mercadológicos, lida com registros do bom gosto, onde excluem-se expressões de um horror mais cruento, como o de vísceras saindo de vítimas, que simplesmente nos faria estranhar, por exemplo, os anúncios de quétchupe nas páginas seguintes. Em “Gen”, a história de um sobrevivente de explosão nuclear no Japão, as vivências mais torturantes eram descritas claramente, num estilo de cartum, e bastante informativo, passando por um outro registro, por outras formas de veicular a informação, relevante e auto-biográfica. Neste caso também se opera com eventos que não possuem outro registro. A conversa envolve o Spacca (João S. de Oliveira), cartunista e autor de quadrinhos, inclusive biográficos e de época, encontráveis em bibliotecas de Escolas públicas (www.spacca.com.br), e explicações de Aristides sobre tamanhas diferenças do registro jornalístico (“A foto reduz à aparência, e o jornal não está preso a isto!”), mas segue apontando para níveis de verossimilhança e elaborações éticas na lida com imagens, que são comparadas com o texto enquanto reinterpretação desenvolvendo estilisticamente recursos de expressão, subjetividades.
Há muitos mitos blindando a figura do consumidor, como alguém que compra um direito à objetividade, à atualidade informativa, mas que raio de atualização seria essa que envelhece, frequentemente mal, como registro histórico? Ou o registro histórico seria uma outra questão, depurativa, e em outra escala, como sugere Atak (Hans Georg Barber)? Conforme reportagens mais zelosas são produzidas, por exemplo, acredita-se que modifiquem quadros mais dramáticos e instantâneos da TV, em movimentos logrando expressividade que pode nem se pretender “da realidade”, mas abordagem, e de observações que podem, tranquilamente, ser eloquentes.
Maiores viagens
Mesmo o cético Atak muito admira o entusiasmo praticamente devocional de todo um pessoal na área. Serei otimista: o desafio podem não ser um maior problema se o fazemos ser entendido, e abordado num cruzamento adequado de linhas de pensamento e informações, exponencialmente. Mas saberemos mesmo desenvolver trabalhos em equipe(s)? As pesquisas podem ser realizadas, ensina Aristides, com as ferramentas da própria área de investigação do tema estudado (“Histórias em Quadrinhos” ou “Jornalismo”), ou no ajuizamento de um campo pela disciplina de outros (o “jornalismo em quadrinhos” estudado pelo viés da linguística – digamos da literatura, mas isto provavelmente transformaria todo o jeito do próprio assunto...).
A contribuição de Jens Harder é um exemplo de grupos e viagens, aproveitando datas e eventos, financiamentos e até sítios turísticos, mas não raro conduzindo seus próprios meios de difusão, gerando discussão sobre as relevâncias – intra e extra-específicas à “mídia” das revistinhas, mas sobretudo mundanas, como torcidas (alemã, na Suíça, no caso) de futebol ou mesmo passeios pelas paisagens da “boa vida” de um outro artista do grupo a debulhar a cidade. Neste ramo, o sujo e o edificante ainda se relacionam: como esferas culturais, cronogramas, bairros e olhares – e como busquei relacionar os temas, como que transversais, que pude presenciar e acompanhar, mesmo numa frequência falhada ao evento...
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
a dança da matéria na progressão
Seguem na esteira do tema de auto-avaliações, algumas "considerações" explicitamente tocantes à ordem da disposição, nas enredadas orientações nossas de cada dia, ou mesmo curso, para alguma "operação resgate" que se faz necessária: do conceito de "um" aluno, ou até mesmo do de professor, pois nessa "novidade" a linguagem se cunha em plena utilização dos recursos - "operativos", avaliativos e reflexivos.
Boas intenções são otimais motivos vencendo "efeitos de loteria" (reacomodação de ânimos voltando ao padrão costumeiro, após algumas enormes alegrias facultadas pela sorte amiga) e vicissitudes, mas começamos simplesmente sendo "objetivos" diante dos outros, ou do rasteiro pessimismo. Seguimos estabelecendo balanços equilibrados por argumentações consequentes de um Juízo que dança conforme as (suas? Nossas? deles?) Idéias, as prosas e as práticas, frequentando, convivendo.
Bolar planos de estudos enseja um plano de apostas, além da dimensão dos exercícios de leitura historicista e pedagógica das idéias em movimento pelas Escolas. Um pouco a exemplo de avaliações: implicando projetos e níveis de satisfação. Mas há testes com os quais não brincamos, como existem drogas que não "transamos", e formas de bulir ou provocar, escolher e investir nos trabalhos enquanto expressões de projeto(s), estudantis ou existenciais. Algumas formalidades são corretamente tomadas como boas maneiras de promover interesses ao longo do tempo e também de tempos em tempos ("Talento é esforço", como ensina o rebelde escritor Ferrez).
As formalidades escolares disciplinam as aplicações do juízo em projetos costumando visar a emancipação e autonomias dos sujeitos históricos, ao menos em teses - pois minha própria autonomia pelo trabalho requer atualizações diversas, inclusive de etiqueta enquanto linguagem de hábitos e costumes, regularizando um padrão desejável, uma disposição de saúde moral.
Projetar estudos envolve um delineamento de campos ou "Fronteiras do Pensamento", um mapeamento de idéias, uma cartografia dos conceitos ou "conceitografia", ou leques temáticos a serem desdobrados, ou mesmo preenchidos, no decorrer das atividades, relação de tópicos para o tema da matéria, a cada vez consideráveis, num mutirão e num conjunto de conhecimentos podendo ser alarmante frente ao que há de bom, ou havia, à falha e às fantasias de uns quantos como poetas e filósofos, avatares, guardiões da morado do quanto há de Ser aí mesmo no mundo, de Pensamento, da Linguagem (arrumando-se e povoando mentalidades da Cultura, do vivente concebível ou imaginável, razoável). Aliás, sendo "idéias em ação" o pensamento (conforme Ortega y Gasset), sempre se pode perguntar das idéias que mobiliza, das suas suas linhagens ou correntes, do seu, por assim dizer, código genético e, naturalmente, da sua racionalidade, no seu raciocínio. Ou conjunto de motivos, uma razão para a expressão, a argumentação, a corrente de oponiões em tão altas voltagens da palavra como as da escrita ou do ensinar (como me observava um poeta, Fabrício Carpinejar, num dia de vestibular) imprimindo noção de conhecimentos sem eletrocutar o vivente que encara suas responsabilidades, topa ponderar ou mesmo puxar reflexão - a bota de sete léguas ou o vôo da consciência através de pistas, pedaços de bons caminhos, considerações ao que já foi pensado (mesmo quando a bem duras penas). Consequentemente curtir tamanhas sapiências e sabedorias também é filosofar. Perguntar-se pelas idéias é remontar argumentativamente às formas de pensar incluindo suas fontes históricas, suas bibliografias compostas, algum currículo de letramento na matéria, pois é sabido que existe um mundaréu de "idéias" e que esse negócio Todo acaba sendo invenção de gênios socráticos e platônicos, mas que só funciona querendo e podendo entender, estudando, construindo o saber, exercendo princípios e exercitando, tais e quais, as tais idéias. A tabela de listagem de conteúdos que ajudaria a pensar atividades, junto com a (Orientação (de atitudes) e) Supervisão Escolar(es), serve primariamente como catálogo de possibilidades e recursos exemplificando como o professor pode ser "comprometido", mas pelo(s) próprio(s) estudante(s) participativo(s) ou parceiro contribuindo na atualização dos próprios potenciais pela realização de planos batalhados em classe, curriculares, e de estudos. Se por força de enfrentamentos, triagens e composições ficamos um pouco (ou notavelmente) mais despertos, receitamos, sem esquecer das dificuldades, pelo contrário, buscando alertar, inclusive para as compensações das armadilhas de uma história "escrita pelos vencedores", por exemplo.
Mesmo em meio a uma floresta hostil de símbolos é viável o cultivo de alguns ou a descoberta de plantações, de grandes hortas nutritivas com a qual se deliciam alguns trabalhadores batalhando pelos estudos os seus próprios caminhos equipados, agrupados, coletivos e atitudinais, crescendo e nutrindo idéias desde antes mesmo do próprio e emocionante café da manhã.
Professores e vozes-guia literárias são importantíssimos, e costumarão andar juntos dando notícias de outras expedições, "a quem interessar possa", por exemplo. Quanto mais conhecem, mais notam tudo o que lhes faltaria saber: não é uma "frase de efeito" (retórico), mas uma constatação tranquila de um professor inquieto e ainda ignorante de muitas formas de associação e articulação de idéias didáticas, por exemplo, mas tratando de gerir uma espécie de cidadela do letramento, uma projeção arquitetônica no lastro do conhecimento, uma habilidade especulativa entre/nas retrospectivas formais, uma coerência em plena pluralidade. Não queremos cometer os mesmos erros, cair nos mesmos buracos, nem pensar o conhecimento como um queijo suíço, cheio de "buracos" (Paul Feyerabend?), ou lidar com um mesmo esquema, multiplicado em todas as escalas, confundindo com um "princípio do holograma" (o do oceano notável na gota). Avisamos aos navegantes: acostumem-se a pesquisar os colegas, com os colegas e para um coleguismo e a solidariedade, atualizando e nutrindo correntes de opinião, informações e articulações, idéias e práticas, entes queridos e materiais, familiares e notas, que o professor seguirá esforçando-se para corresponder às justas expectativas de fechar balanços regularmente e propor ações investigativas, pistas, rotinas e montagens de idéias em linhas de pensamento ou raios luminosos com que se tricotam currículos, estabelecem conversas e leituras, tecem juízos e retomam lições.
Post-Scriptum: Tenho, ou estou com, problemas sérios, e problemas graves, como muitos, mas tão específicos quanto os de qualquer um, e não raro construídos como piada, farsa, ou no mínimo ironia: do que mais posso ficar sabendo? Quer dizer, existe uma estrutura da comédia, do risível, que pode ser ótima, e cujo profissional "clássico" é o palhaço, um trabalhador com quem eu ficaria muito honrado de ser identificado, e que é de fato medicinal (como se pode apreciar até mesmo através de filmes, como "Doutores da Alegria" (2005) e "Pach Adams O Amor é Contagioso" (1998)) não fossem pelos prejuízos nas condições "ambientais"-sociais de inteirarmo-nos das coisas, pelas quais eventualmente também sou capaz de me sentir enlutado, ou pior, preso num ciclo vicioso, posto que deveríamos estar no mínimo mais "por dentro" dos planos bem intencionados de colegas e precursores, e/ou possuir um discurso/instrumental didaticamente correto e expressivo. Não que estejamos todos no mesmo barco ou simulador de vôo testando os tipos plausíveis de pane, mas naquele sistema vivo do planeta, com umas partes comendo outras em plena luz do dia, umas destruindo outras, num mundaréu da ilusão, só para sentir que "abafou geral"; modelando formas de vida através de dinâmicas viróticas entre outras, educativas e escolares, sociais e eventualmente profissionalizantes - ao menos com menos gírias ou aspas (mas, afinal, em que termos nos ligamos analítica, formal e/ou efetivamente? em nome de algum senso crítico, em nosso caso, realmente).
Boas intenções são otimais motivos vencendo "efeitos de loteria" (reacomodação de ânimos voltando ao padrão costumeiro, após algumas enormes alegrias facultadas pela sorte amiga) e vicissitudes, mas começamos simplesmente sendo "objetivos" diante dos outros, ou do rasteiro pessimismo. Seguimos estabelecendo balanços equilibrados por argumentações consequentes de um Juízo que dança conforme as (suas? Nossas? deles?) Idéias, as prosas e as práticas, frequentando, convivendo.
Bolar planos de estudos enseja um plano de apostas, além da dimensão dos exercícios de leitura historicista e pedagógica das idéias em movimento pelas Escolas. Um pouco a exemplo de avaliações: implicando projetos e níveis de satisfação. Mas há testes com os quais não brincamos, como existem drogas que não "transamos", e formas de bulir ou provocar, escolher e investir nos trabalhos enquanto expressões de projeto(s), estudantis ou existenciais. Algumas formalidades são corretamente tomadas como boas maneiras de promover interesses ao longo do tempo e também de tempos em tempos ("Talento é esforço", como ensina o rebelde escritor Ferrez).
As formalidades escolares disciplinam as aplicações do juízo em projetos costumando visar a emancipação e autonomias dos sujeitos históricos, ao menos em teses - pois minha própria autonomia pelo trabalho requer atualizações diversas, inclusive de etiqueta enquanto linguagem de hábitos e costumes, regularizando um padrão desejável, uma disposição de saúde moral.
Projetar estudos envolve um delineamento de campos ou "Fronteiras do Pensamento", um mapeamento de idéias, uma cartografia dos conceitos ou "conceitografia", ou leques temáticos a serem desdobrados, ou mesmo preenchidos, no decorrer das atividades, relação de tópicos para o tema da matéria, a cada vez consideráveis, num mutirão e num conjunto de conhecimentos podendo ser alarmante frente ao que há de bom, ou havia, à falha e às fantasias de uns quantos como poetas e filósofos, avatares, guardiões da morado do quanto há de Ser aí mesmo no mundo, de Pensamento, da Linguagem (arrumando-se e povoando mentalidades da Cultura, do vivente concebível ou imaginável, razoável). Aliás, sendo "idéias em ação" o pensamento (conforme Ortega y Gasset), sempre se pode perguntar das idéias que mobiliza, das suas suas linhagens ou correntes, do seu, por assim dizer, código genético e, naturalmente, da sua racionalidade, no seu raciocínio. Ou conjunto de motivos, uma razão para a expressão, a argumentação, a corrente de oponiões em tão altas voltagens da palavra como as da escrita ou do ensinar (como me observava um poeta, Fabrício Carpinejar, num dia de vestibular) imprimindo noção de conhecimentos sem eletrocutar o vivente que encara suas responsabilidades, topa ponderar ou mesmo puxar reflexão - a bota de sete léguas ou o vôo da consciência através de pistas, pedaços de bons caminhos, considerações ao que já foi pensado (mesmo quando a bem duras penas). Consequentemente curtir tamanhas sapiências e sabedorias também é filosofar. Perguntar-se pelas idéias é remontar argumentativamente às formas de pensar incluindo suas fontes históricas, suas bibliografias compostas, algum currículo de letramento na matéria, pois é sabido que existe um mundaréu de "idéias" e que esse negócio Todo acaba sendo invenção de gênios socráticos e platônicos, mas que só funciona querendo e podendo entender, estudando, construindo o saber, exercendo princípios e exercitando, tais e quais, as tais idéias. A tabela de listagem de conteúdos que ajudaria a pensar atividades, junto com a (Orientação (de atitudes) e) Supervisão Escolar(es), serve primariamente como catálogo de possibilidades e recursos exemplificando como o professor pode ser "comprometido", mas pelo(s) próprio(s) estudante(s) participativo(s) ou parceiro contribuindo na atualização dos próprios potenciais pela realização de planos batalhados em classe, curriculares, e de estudos. Se por força de enfrentamentos, triagens e composições ficamos um pouco (ou notavelmente) mais despertos, receitamos, sem esquecer das dificuldades, pelo contrário, buscando alertar, inclusive para as compensações das armadilhas de uma história "escrita pelos vencedores", por exemplo.
Mesmo em meio a uma floresta hostil de símbolos é viável o cultivo de alguns ou a descoberta de plantações, de grandes hortas nutritivas com a qual se deliciam alguns trabalhadores batalhando pelos estudos os seus próprios caminhos equipados, agrupados, coletivos e atitudinais, crescendo e nutrindo idéias desde antes mesmo do próprio e emocionante café da manhã.
Professores e vozes-guia literárias são importantíssimos, e costumarão andar juntos dando notícias de outras expedições, "a quem interessar possa", por exemplo. Quanto mais conhecem, mais notam tudo o que lhes faltaria saber: não é uma "frase de efeito" (retórico), mas uma constatação tranquila de um professor inquieto e ainda ignorante de muitas formas de associação e articulação de idéias didáticas, por exemplo, mas tratando de gerir uma espécie de cidadela do letramento, uma projeção arquitetônica no lastro do conhecimento, uma habilidade especulativa entre/nas retrospectivas formais, uma coerência em plena pluralidade. Não queremos cometer os mesmos erros, cair nos mesmos buracos, nem pensar o conhecimento como um queijo suíço, cheio de "buracos" (Paul Feyerabend?), ou lidar com um mesmo esquema, multiplicado em todas as escalas, confundindo com um "princípio do holograma" (o do oceano notável na gota). Avisamos aos navegantes: acostumem-se a pesquisar os colegas, com os colegas e para um coleguismo e a solidariedade, atualizando e nutrindo correntes de opinião, informações e articulações, idéias e práticas, entes queridos e materiais, familiares e notas, que o professor seguirá esforçando-se para corresponder às justas expectativas de fechar balanços regularmente e propor ações investigativas, pistas, rotinas e montagens de idéias em linhas de pensamento ou raios luminosos com que se tricotam currículos, estabelecem conversas e leituras, tecem juízos e retomam lições.
Post-Scriptum: Tenho, ou estou com, problemas sérios, e problemas graves, como muitos, mas tão específicos quanto os de qualquer um, e não raro construídos como piada, farsa, ou no mínimo ironia: do que mais posso ficar sabendo? Quer dizer, existe uma estrutura da comédia, do risível, que pode ser ótima, e cujo profissional "clássico" é o palhaço, um trabalhador com quem eu ficaria muito honrado de ser identificado, e que é de fato medicinal (como se pode apreciar até mesmo através de filmes, como "Doutores da Alegria" (2005) e "Pach Adams O Amor é Contagioso" (1998)) não fossem pelos prejuízos nas condições "ambientais"-sociais de inteirarmo-nos das coisas, pelas quais eventualmente também sou capaz de me sentir enlutado, ou pior, preso num ciclo vicioso, posto que deveríamos estar no mínimo mais "por dentro" dos planos bem intencionados de colegas e precursores, e/ou possuir um discurso/instrumental didaticamente correto e expressivo. Não que estejamos todos no mesmo barco ou simulador de vôo testando os tipos plausíveis de pane, mas naquele sistema vivo do planeta, com umas partes comendo outras em plena luz do dia, umas destruindo outras, num mundaréu da ilusão, só para sentir que "abafou geral"; modelando formas de vida através de dinâmicas viróticas entre outras, educativas e escolares, sociais e eventualmente profissionalizantes - ao menos com menos gírias ou aspas (mas, afinal, em que termos nos ligamos analítica, formal e/ou efetivamente? em nome de algum senso crítico, em nosso caso, realmente).
domingo, 15 de agosto de 2010
Ética X Moral X Estética
Alguns reparos de “História Essencial da Filosofia” Vol.5, de Paulo Ghiraldelli Jr., pela Universo dos Livros, 2010, situam bem às concepções tipificadas na matéria, eventualmente atravessada por definições ou mesmo contradições que, diferentemente da unanimidade, obrigaram a pensar. O tipo de anotação sobre observações de terceiros apresenta evidentes limitações que somente insensatos negariam, mas já fica recomendada a elucidativa leitura referida, e aberta a temática abordando:
Etiqueta prática em público? Ética, enquanto ação moral, doméstica, privada, familiar ou pessoal contemplada(s), aplicada à vida social, se expressa até por regramentos legais e inclinações estéticas, estilos e atitudes de autoria individual ou coletiva identificada com tal pensamento ou filosofia. Se observa a(s) moralidade(s) vigentes, ou reflete-as criticamente, portanto, já é “ética”, que pode merecer ainda mais fundamentos ou justificativas, validando ou não preceitos eticomorais vigentes, em conceitos filosóficos tratando de outros. Assim, quando pesamos as consequências previsíveis de nossas atitudes, ou mesmo apreciamos “nossos deveres”, podemos estabelecer princípios que tendem a ser, por exemplo, classificadas como “naturalistas”, “relativistas” ou “emotivistas”, com força ou sabedoria. Tais rótulos podem orientar o uso das idéias, mas também perigam enfraquecê-las se não ficarem contextualizados, por exemplo: o naturalismo em arte não é dizer que as coisas deveriam mesmo ser como (dizemos que) elas são “normalmente”, mas é o nome que se dá a tal linha de pesamento em discussões sobre a justificativa da via de regra moral. “O” relativista também pode não ser o que “dança conforme a música”, o contraditório, especialmente quando guarda certas proporções entre os comportamentos que correlaciona, fazendo questão de pensar por conta própria para ão aderir a uma resposta pronta do tipo “os civilizados se reconhecem” ou “é a lei (dos valores astronômicos) desde que o mudo é mundo” (de tipo “escrita nas estrelas”). Embora não precisemos nos auto-enquadrar, não falta quem assuma e defenda o trabalho relativista, nos estudos culturais desmistificando barbáries impingidas em nome da civilização ou mesmo da modernidade, em análises adotadas como estudos muito sérios da História, que não nos isentam de elaborar posições, de entender que as coisas não se equivalem todas, por mais “que digam, que falem”, que não estão ou estamos “fazendo nada” - ou mesmo pesem diversamente nossos preceitos igualitários, por exemplo. Os emotivistas consideram o sentido de afirmações como verdadeiro ou falso, na abordagem aos fatos mundanos, mas uma caracterização de expressões éticas como meramente emotivas, feito grunhidos, vaias, aplausos, etc., de portadores de motivos pelos quais podemos, ou não, vir a nos interessar, trocando algo que se pareça com uma idéia, com argumentações que “até podem” transformar posicionamentos, sempre acompanhados de incentivos ou reprovações que distinguem as colocações morais. Uma clivagem moral bem categórica, em religião ou filosofia, pretende tratar do dever, seja o de obediência à expressão do amor, seja o de agir em coerência com o que possa ser tomado como “legal” por todos neste mundão (famoso “imperativo categórico” de Immanuel Kant (1724-1804), bem livremente traduzido), limite cujo desrespeito se torna aberrante, muito mais que apenas desgostoso. Esta última formulação, que não é simplesmente equivalente a um “aja com os outros como gostarias que eles agissem contigo”, e nega a “mentira” qualquer forma de legitimidade, também serve de critério para a avaliação das linhas de pensamento sobre atitudes e costumes acertados ou “nem”, como se diz, se pesa, entre moçadas do nosso educandário. Evito rotular os autores com lugares comuns inclusive por razões já adiantadas, mas aproximá-los por “afinidades” ou mesmo proximidade geográfica pode ser de indispensável utilidade e não “só para inglês ver”, como o caso justamente dos utilitaristas ingleses, como John Stuart Mill (1806-1873), que assumindo a relação entre ausência de dor e felicidade (clássica, também explicitada no epicurismo que origina o estoicismo, por exemplo) tomam como “valor” o que seja útil a tal condição entre os seres humanos. São princípios que dão a entender como regramentos generalizados podem ser complicados: em que casos seria canalhice, por exemplo, operar ou não operar desilusões? Quem continua na conversa vive descobrindo coisas, incrementando o interesse pelos casos das culturas em questão onde “a discussão racional reaparece exatamente porque se as consequêcias não foram pré-julgadas, elas são repostas na mesa de conversação para os que estão observando o quadro.”
Alta voltagem, adrenalina e tensão no filme de investigação da máfia industrial e política da ultraviolência pornográfica conduzida com sangue frio e saturado de dados razoavelmente coordenados a ação estratégica ou ainda mais “ligada” do que turbinada ou visualizada? O romance de intriga pode ser um caso bastante seriamente pensado, e decidido, de estilo e pensamento, atitude e consumo responsável de apetrechos curriculares e midiáticos numa selva de símbolos nem que os operadores de símbolos astronômicos não explicam – mas tampouco desconhecem, como alguns “astronautas” que poderiam esquecer das rais pressões de rotineiras agendas de trabalho sobre a terra, ou mesmo do enfrentamento “à beleza”, cujo grito, em plena fuga ou derrota, do artista, bem poderia ser a própria arte, uma das concepções talvez um tanto “góticas” ou tradicionais do poeta autor de “As Flores do Mal”, Charles Baudelaire (1821-1867). Essa literatura a problematizar a noção estética, de beleza e reflexão sobre ela enquanto um fazer “a coisa certa”, ética aplicada, já se estuda na relação com o absurdo de uma época que também não deixa de ser “a nossa”.
Os fluxos de acontecimentos nos pressionam de modo não raro cruelmente misterioso, fazendo o vivente debruçar-se sobre si mesmo para realizar seu potencial de sabedoria e encontrando zonas sombrias ou nebulosas, forças independentes da própria consciência, crença racional e palavra “do sujeito”, cuja própria “racionalidade” operada por uma identidade personificada pelo fator “eu” parece colocada em cheque, na verdade, quando se reconhece a subjetividade povoada por instintos e mundos sombrios, intuições viciadas deslocando sintomaticamente as próprias palavras dos sujeitos, só para ficar a floresta de símbolos em que não deixamos de vivenciar a selvageria do homem e o imediatismo dos pacientes. Se é tão difícil às pessoas se assumirem, paciência, não é simples a responsabilidade da liberdade, o enfrentamento de poderosas pulsões de morte e de união, agregações para além de vantagens e necessidade, inclusive, mas origem vital de muita criatividade também, já que temos de nos esquecer tanto e “morrer” tantas vezes. O desenvolvimento da pessoa que se satisfaz a vida ou do coletivo que se forma e cresce são campos atravessados de diretrizes problemáticas quanto aos valores culturais que herdamos ou que exercitamos a prática, como atitude moral. Exigimos demais do equilíbrio humano? Tiramos o corpo fora para não sentir julgamentos recaindo sobre ossas condutas? Evidente, escolhas acarretam custos nem sempre bem compreendidos, e uma racionalização incompleta de compensações desajuíza ainda mais, mas trata-se de conquistar a aprovação de tradições e fantasmas, de estar em paz com as suas leis primordiais a ponto de ser exemplo, dar muitos exemplos, estar à altura dos heróis e santos, etc., o que pode ser dolorido e frustrante quando implica em desvantagem ou ônus levando às culpas e aos ressentimentos consecutivos (de alguns tabuleiros de análises como estas pretendendo dar conta de conexões entre ânimo, destinos e conjuntos progressivamente abrangentes mesmo antes de entender muitos momentos da própria escola...). Por outro lado o comedimento pensante que permite inverter o incômodo diante da ação equivocada de outrem é altamente surpreendente e não corresponde necessariamente às credenciais intelectuais em vigor nesta civilização e escola. Uma posição de recuo ou estabelecer apenas princípios para a conduta a ser proposta e/ou desenvolvida abrirá caminho para campos mais apaixonantes de trabalho ou tamanha neutralidade na filosofia prática só nos desviaria do tema real, das sabedorias e dos seus saberes? Os limites assumidos na correlação de julgamentos e desejos, satisfações, ainda são os da argumentação humana, pela qual Sigmund Freud (1856-1939) parece não querer se comprometer, como se os “vícios de linguagem” fossem algo mais além de regra e moedas correntes.
Etiqueta prática em público? Ética, enquanto ação moral, doméstica, privada, familiar ou pessoal contemplada(s), aplicada à vida social, se expressa até por regramentos legais e inclinações estéticas, estilos e atitudes de autoria individual ou coletiva identificada com tal pensamento ou filosofia. Se observa a(s) moralidade(s) vigentes, ou reflete-as criticamente, portanto, já é “ética”, que pode merecer ainda mais fundamentos ou justificativas, validando ou não preceitos eticomorais vigentes, em conceitos filosóficos tratando de outros. Assim, quando pesamos as consequências previsíveis de nossas atitudes, ou mesmo apreciamos “nossos deveres”, podemos estabelecer princípios que tendem a ser, por exemplo, classificadas como “naturalistas”, “relativistas” ou “emotivistas”, com força ou sabedoria. Tais rótulos podem orientar o uso das idéias, mas também perigam enfraquecê-las se não ficarem contextualizados, por exemplo: o naturalismo em arte não é dizer que as coisas deveriam mesmo ser como (dizemos que) elas são “normalmente”, mas é o nome que se dá a tal linha de pesamento em discussões sobre a justificativa da via de regra moral. “O” relativista também pode não ser o que “dança conforme a música”, o contraditório, especialmente quando guarda certas proporções entre os comportamentos que correlaciona, fazendo questão de pensar por conta própria para ão aderir a uma resposta pronta do tipo “os civilizados se reconhecem” ou “é a lei (dos valores astronômicos) desde que o mudo é mundo” (de tipo “escrita nas estrelas”). Embora não precisemos nos auto-enquadrar, não falta quem assuma e defenda o trabalho relativista, nos estudos culturais desmistificando barbáries impingidas em nome da civilização ou mesmo da modernidade, em análises adotadas como estudos muito sérios da História, que não nos isentam de elaborar posições, de entender que as coisas não se equivalem todas, por mais “que digam, que falem”, que não estão ou estamos “fazendo nada” - ou mesmo pesem diversamente nossos preceitos igualitários, por exemplo. Os emotivistas consideram o sentido de afirmações como verdadeiro ou falso, na abordagem aos fatos mundanos, mas uma caracterização de expressões éticas como meramente emotivas, feito grunhidos, vaias, aplausos, etc., de portadores de motivos pelos quais podemos, ou não, vir a nos interessar, trocando algo que se pareça com uma idéia, com argumentações que “até podem” transformar posicionamentos, sempre acompanhados de incentivos ou reprovações que distinguem as colocações morais. Uma clivagem moral bem categórica, em religião ou filosofia, pretende tratar do dever, seja o de obediência à expressão do amor, seja o de agir em coerência com o que possa ser tomado como “legal” por todos neste mundão (famoso “imperativo categórico” de Immanuel Kant (1724-1804), bem livremente traduzido), limite cujo desrespeito se torna aberrante, muito mais que apenas desgostoso. Esta última formulação, que não é simplesmente equivalente a um “aja com os outros como gostarias que eles agissem contigo”, e nega a “mentira” qualquer forma de legitimidade, também serve de critério para a avaliação das linhas de pensamento sobre atitudes e costumes acertados ou “nem”, como se diz, se pesa, entre moçadas do nosso educandário. Evito rotular os autores com lugares comuns inclusive por razões já adiantadas, mas aproximá-los por “afinidades” ou mesmo proximidade geográfica pode ser de indispensável utilidade e não “só para inglês ver”, como o caso justamente dos utilitaristas ingleses, como John Stuart Mill (1806-1873), que assumindo a relação entre ausência de dor e felicidade (clássica, também explicitada no epicurismo que origina o estoicismo, por exemplo) tomam como “valor” o que seja útil a tal condição entre os seres humanos. São princípios que dão a entender como regramentos generalizados podem ser complicados: em que casos seria canalhice, por exemplo, operar ou não operar desilusões? Quem continua na conversa vive descobrindo coisas, incrementando o interesse pelos casos das culturas em questão onde “a discussão racional reaparece exatamente porque se as consequêcias não foram pré-julgadas, elas são repostas na mesa de conversação para os que estão observando o quadro.”
Alta voltagem, adrenalina e tensão no filme de investigação da máfia industrial e política da ultraviolência pornográfica conduzida com sangue frio e saturado de dados razoavelmente coordenados a ação estratégica ou ainda mais “ligada” do que turbinada ou visualizada? O romance de intriga pode ser um caso bastante seriamente pensado, e decidido, de estilo e pensamento, atitude e consumo responsável de apetrechos curriculares e midiáticos numa selva de símbolos nem que os operadores de símbolos astronômicos não explicam – mas tampouco desconhecem, como alguns “astronautas” que poderiam esquecer das rais pressões de rotineiras agendas de trabalho sobre a terra, ou mesmo do enfrentamento “à beleza”, cujo grito, em plena fuga ou derrota, do artista, bem poderia ser a própria arte, uma das concepções talvez um tanto “góticas” ou tradicionais do poeta autor de “As Flores do Mal”, Charles Baudelaire (1821-1867). Essa literatura a problematizar a noção estética, de beleza e reflexão sobre ela enquanto um fazer “a coisa certa”, ética aplicada, já se estuda na relação com o absurdo de uma época que também não deixa de ser “a nossa”.
Os fluxos de acontecimentos nos pressionam de modo não raro cruelmente misterioso, fazendo o vivente debruçar-se sobre si mesmo para realizar seu potencial de sabedoria e encontrando zonas sombrias ou nebulosas, forças independentes da própria consciência, crença racional e palavra “do sujeito”, cuja própria “racionalidade” operada por uma identidade personificada pelo fator “eu” parece colocada em cheque, na verdade, quando se reconhece a subjetividade povoada por instintos e mundos sombrios, intuições viciadas deslocando sintomaticamente as próprias palavras dos sujeitos, só para ficar a floresta de símbolos em que não deixamos de vivenciar a selvageria do homem e o imediatismo dos pacientes. Se é tão difícil às pessoas se assumirem, paciência, não é simples a responsabilidade da liberdade, o enfrentamento de poderosas pulsões de morte e de união, agregações para além de vantagens e necessidade, inclusive, mas origem vital de muita criatividade também, já que temos de nos esquecer tanto e “morrer” tantas vezes. O desenvolvimento da pessoa que se satisfaz a vida ou do coletivo que se forma e cresce são campos atravessados de diretrizes problemáticas quanto aos valores culturais que herdamos ou que exercitamos a prática, como atitude moral. Exigimos demais do equilíbrio humano? Tiramos o corpo fora para não sentir julgamentos recaindo sobre ossas condutas? Evidente, escolhas acarretam custos nem sempre bem compreendidos, e uma racionalização incompleta de compensações desajuíza ainda mais, mas trata-se de conquistar a aprovação de tradições e fantasmas, de estar em paz com as suas leis primordiais a ponto de ser exemplo, dar muitos exemplos, estar à altura dos heróis e santos, etc., o que pode ser dolorido e frustrante quando implica em desvantagem ou ônus levando às culpas e aos ressentimentos consecutivos (de alguns tabuleiros de análises como estas pretendendo dar conta de conexões entre ânimo, destinos e conjuntos progressivamente abrangentes mesmo antes de entender muitos momentos da própria escola...). Por outro lado o comedimento pensante que permite inverter o incômodo diante da ação equivocada de outrem é altamente surpreendente e não corresponde necessariamente às credenciais intelectuais em vigor nesta civilização e escola. Uma posição de recuo ou estabelecer apenas princípios para a conduta a ser proposta e/ou desenvolvida abrirá caminho para campos mais apaixonantes de trabalho ou tamanha neutralidade na filosofia prática só nos desviaria do tema real, das sabedorias e dos seus saberes? Os limites assumidos na correlação de julgamentos e desejos, satisfações, ainda são os da argumentação humana, pela qual Sigmund Freud (1856-1939) parece não querer se comprometer, como se os “vícios de linguagem” fossem algo mais além de regra e moedas correntes.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
recordando escola e escolas
Refletindo a vida, a escolarização é um tema para lá de clássico e merecedor de argumentos biográficos em registros culturais como os depoimentos atualmete difundidos em cursos à distância e por essas e outras correntes de opinião populares.
traços da prosa contemporânea
Duas belas características da matéria de entrevista é citar entidades coletivas atuais, além dos autores inspiradores, por um lado, e exemplificando com muitos casos bem pertinentes, plantando o currículo inter-urbano, reproduzindo a partilha de conhecimentos, desmistificando e fortalecendo o respeito aos convivas e povos na l(ab)uta, na mesma esteira de narrativa viva, que se busca e traz para o caminho trilhado em etapas (e vislumbrado em momentos?!). Afinal, escrever a própria história é coisa a se fazer com gestos, saliva, risos e lágrimas, trajetórias e interpretações (incluindo aquelas em que nos educamos e aprofundamos segundo as quais “a História” teria sido escrita “pelos vencedores”, nos empurrando para outras formas de pensar, por exemplo fábulas reencarnacionistas, como escapes do discurso egocêntrico reinante, mas vivos são os que sabem “escrever” a sua própria vida, contar, mexer com o corpo do imaginário, o cosmo de universos narrativos, a poética da linguagem e as linguagens do poder mais certo e popular, incluindo quem sabe as políticas utopistas que estavam pulverizadas em futurismos estúpidos).
A imagem fotográfica já é um recipiente de emoção, qual página literária, de vivência, recordação e aspiração, e cada bloquinho da entrevista a tijolada no mal ou matéria na parede da construção de uma mandala, uma linguagem na sintonia de educação popular que tanto almejamos. O jardim é zen, é a árvore dos ramos de nossas atividades, no jardim do cosmos, é o lugar de encontro, de medicina, de cuidar com quem estamos, com que vida(s) lidamos, lind@s!
Mas isso a turma já sabe, e prossigo na leitura:Há costura com premissas articuladoras de ações (de educadores populares), pelo diálogo em torno de concepções equilibradas, conceitos harmônicos pelos quais se expressam os convivas que nos encontramos recentemente no FISL – graças à “turma de sempre” (só não gosto de ficar como desgarrado da história da Tusilé entre tantas) e de outros eventos bancados “às próprias custas S.A.” e repercutindo aos trancos e solavancos, das rodas de samba e das articulações para tão “mais além” de nacionais, locais, universitárias ou urbanas (continentais, em escala, políticas e eletrônicas em poética na veia dos veios vindo e canais midiáticos em dinâmicas de rede muito mais forte (e em pleno “feirão”) do que as “ondas” de tão triste e terrível memória...) e apesar das tão lamentáveis colisões de agenda que seguimos sublimando em nome das reconfigurações de comunicação inter-turmas em que “transitemos”, intervimos, respiramos, pensamos, obramos. Explicitamente estético, o movimento também sensibiliza para a iluminação desde os “pequenos” momentos de nossas vidas, contra anestesias e embrutecimentos, a estesia (“aesthesis”), nutrir a sabedoria do “gosto”, em pleno ritmo de quatro estações (como numa música gringa que decifrei ontem, “dos porquês de tua preferência de estação”).
Deste equilíbrio da arte com o conhecimento, ou concílio do ambientalismo com estética, nos admiramos, vibramos, aplaudimos as notícias, pedimos registros para acervo, visitas, às localidades da malha urbana em que operamos, moradias, ocupações, projetos, eventualmente ossos do ofício, ou políticas mesmo, conforme a exigência de aprofundamento e a demanda d@s companheiros escandalizad@s com os descaminhos da vida pelas quais transitam tão “car@s” colegas.
A imagem fotográfica já é um recipiente de emoção, qual página literária, de vivência, recordação e aspiração, e cada bloquinho da entrevista a tijolada no mal ou matéria na parede da construção de uma mandala, uma linguagem na sintonia de educação popular que tanto almejamos. O jardim é zen, é a árvore dos ramos de nossas atividades, no jardim do cosmos, é o lugar de encontro, de medicina, de cuidar com quem estamos, com que vida(s) lidamos, lind@s!
Mas isso a turma já sabe, e prossigo na leitura:Há costura com premissas articuladoras de ações (de educadores populares), pelo diálogo em torno de concepções equilibradas, conceitos harmônicos pelos quais se expressam os convivas que nos encontramos recentemente no FISL – graças à “turma de sempre” (só não gosto de ficar como desgarrado da história da Tusilé entre tantas) e de outros eventos bancados “às próprias custas S.A.” e repercutindo aos trancos e solavancos, das rodas de samba e das articulações para tão “mais além” de nacionais, locais, universitárias ou urbanas (continentais, em escala, políticas e eletrônicas em poética na veia dos veios vindo e canais midiáticos em dinâmicas de rede muito mais forte (e em pleno “feirão”) do que as “ondas” de tão triste e terrível memória...) e apesar das tão lamentáveis colisões de agenda que seguimos sublimando em nome das reconfigurações de comunicação inter-turmas em que “transitemos”, intervimos, respiramos, pensamos, obramos. Explicitamente estético, o movimento também sensibiliza para a iluminação desde os “pequenos” momentos de nossas vidas, contra anestesias e embrutecimentos, a estesia (“aesthesis”), nutrir a sabedoria do “gosto”, em pleno ritmo de quatro estações (como numa música gringa que decifrei ontem, “dos porquês de tua preferência de estação”).
Deste equilíbrio da arte com o conhecimento, ou concílio do ambientalismo com estética, nos admiramos, vibramos, aplaudimos as notícias, pedimos registros para acervo, visitas, às localidades da malha urbana em que operamos, moradias, ocupações, projetos, eventualmente ossos do ofício, ou políticas mesmo, conforme a exigência de aprofundamento e a demanda d@s companheiros escandalizad@s com os descaminhos da vida pelas quais transitam tão “car@s” colegas.
Paisagismo Alimentar - uma entrevista
A entrevista com Cláudia Lulkin, tocante aos cuidados com a alimentação através da própria Terra, abre um leque importante de considerações educativas e ambientais que, notando pouco em minha matéria escolar de Filosofia, vou buscar até como referência de harmonia com a natureza, ou ao menos registro de sintonias que se restabelecem, grande “xis de questão” a aparecer e nos desafiar nas tantas esquinas de nossa História. Entusiasta, sustentar essa proposta como linguagem ambientalista no cotidiano me parece “tudo”, tudinho!
Foto: Marcio de Almeida Bueno
Paisagismo alimentar alia jardinagem à alimentação saudável
A nutricionista Claudia Lulkin, adepta de um estilo de vida em harmonia com a natureza, realiza trabalho educativo de resgate da cultura da jardinagem voltada para a alimentação num assentamento urbano na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul – o chamado paisagismo ou jardinagem alimentar. Nesta entrevista, ela esclarece o que é e quais os valores difundidos por esta prática que, de acordo com ela, deveria ser adotada não só no campo, mas também nas cidades.
Mobilizadores COEP – O que é paisagismo alimentar? Em que princípios se baseia?
R.: Paisagismo alimentar é uma proposta de se plantar, num mesmo local, plantas destinadas ao embelezamento e outras que podem fornecer alimentos, como árvores frutíferas, plantas medicinais, como guaco, boldo, camomila, e flores comestíveis como capuchinha. Em todos os lugares, em cada cantinho, em cada pedacinho que parece abandonado podemos fazer um jardim aprazível, curador, colorido, organizador do olhar. O princípio básico é embelezar como função estética, anti-estresse e incentivar a paixão pela jardinagem.
Mobilizadores COEP – De que maneira o paisagismo alimentar pode contribuir para promover a segurança alimentar, principalmente, dos mais pobres, onde os recursos e também o acesso à informação para uma alimentação saudável são mais escassos?
R.: Promover a segurança alimentar é muita pretensão, mas, ao plantarmos frutas como mamão, limão, laranja, bergamota, maracujá, pitangas, goiabas, butiás e abacate; temperos, como salsinha, cebolinha, manjericão, manjerona; e ervas medicinais como capim cidró, camomila, macela, lavanda, podemos oferecer às comunidades princípios curativos, vitaminas e minerais, que além de tudo podem ser compartilhados e dar aroma e cores à paisagem. Mesmo a jardinagem na cidade utiliza plantas de forma bem repetitiva, ou seja, com pouca diversidade e, em geral, sem função alimentar.
Mobilizadores COEP – Qual a relação entre paisagismo alimentar e permacultura? Poderia explicar a diferença entre eles?
R.: A permacultura é a prática de uma cultura permanente que engloba planejar e manter sistemas de escala humana ambientalmente sustentáveis. Em permacultura também se faz paisagismo alimentar e muito mais. Esta cultura ocupa-se de guardar água para molhar as plantas, ensina a fazer telhados verdes que também podem ter plantas alimentícias, faz casas com recursos locais. O paisagismo alimentar está dentro da permacultura, está dentro das práticas de agrofloresta, está dentro do paisagismo, da arquitetura, da agricultura urbana.
Mobilizadores COEP – Podemos aplicar o paisagismo alimentar nos grandes centros urbanos? Como seria o plantio em apartamentos?
R.: Muitas pessoas plantam suas flores e temperos em sacadas de apartamentos, em parapeitos de janelas. Os centros urbanos têm muitas áreas com espaços que podem se tornar jardins comestíveis. A princípio qualquer lugar pode receber plantas para se tornar mais agradável.
Mobilizadores COEP – Que tipo de alimentos, flores e ervas medicinais podem ser cultivados? Quais os principais cuidados que devem ser adotados?
R.: Já citei vários, mas é importante se certificar com pessoas que entendam de plantas e estudar o que pode ser plantado, para não ter problemas futuros com fios de eletricidade ou com canos que estão sob calçadas, por exemplo, caso as espécies escolhidas cresçam muito ou tenham a raiz muito grande.
Mobilizadores COEP – De que maneira podemos melhorar a nossa interação com a natureza, através dos alimentos, dentro dos grandes centros urbanos?
R.: Cada vez mais parece que as pessoas estão se dando conta da necessidade dos elementos da natureza para sua sanidade: tomar sol, respirar ar puro, sentir a brisa e o vento, ouvir a chuva, ver um lago, ver o verde, sentir os aromas. Se plantarmos jardins que também sejam comestíveis, também sentiremos sabores. É uma alimentação não só para o corpo, mas para a mente, para os olhos, para os sentidos, para o equilíbrio psicológico.
Mobilizadores COEP – Você trabalha com um assentamento urbano em São Leopoldo (RS), onde desenvolve um trabalho educativo através da jardinagem alimentar. No que consiste o trabalho e há quanto tempo vem sendo realizado? Ele já trouxe resultados? Poderia citar exemplos práticos?
R.: O assentamento urbano Vida Nova, em São Leopoldo, abriga cerca de 133 famílias que moravam às margens do Arroio Kruse e foram reassentadas pelo Projeto PAC Arroio Kruse – projeto articulado junto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vinculado ao Governo Federal, sob a coordenação da Prefeitura. O projeto visa também à regularização fundiária e a recuperação ambiental de aproximadamente 1,5 quilômetros do arroio.
Estamos começando a disseminar a ideia da criação de uma nova paisagem, de embelezar e valorizar os espaços individuais e coletivos e acrescentar princípios alimentares – jardins com ervas, com flores coloridas e curativas, com trepadeiras como guaco e bertalha, e babosa para cicatrização, por exemplo. As famílias assentadas já vinham de uma prática similar. Agora, estamos estimulando a continuidade dessas práticas e a aproximação da vizinhança, com um troca-troca de mudas, receitas e xaropes.
Mobilizadores COEP – Como a comunidade do assentamento está reagindo a este tipo de trabalho educacional? Ela participa e se envolve? De que forma?
R.: As pessoas se envolvem pelo prazer de ver os resultados, mesmo que isso tenha um tempo para se estabelecer: o tempo do crescimento das plantas. É interessante, pois o tempo urbano é da correria e a jardinagem tem o tempo das estações, das lunações e temos que esperar para ver o que acontece com as plantas. É outra dimensão.
É um trabalho ainda recente, mas esperamos envolver a comunidade e disseminar estas ideias. O método – inspirado a partir de leituras e vivências dos mestres Paulo Freire, Bill Mollison, Lucia Legan, Ademar Brasileiro e Clara Brandão; das Ongs Ingá, Flor de Ouro, Oca Brasil e Ecocentro IPEC – é da descoberta dos recursos disponíveis a cada momento, provocando rápida transformação com assimilação da idéia e da prática.
Mobilizadores COEP – Como podemos utilizar os alimentos de forma a torná-los aliados para o desenvolvimento de uma vida mais saudável e mais produtiva?
R.: Os alimentos de origem vegetal: frutas, verduras, flores, temperos têm princípios funcionais, curativos. Têm cheiros, cores, sabores verdadeiros. Se conseguimos transformar o paladar que está ficando também alterado por uma alimentação altamente processada e artificializada, estaremos oferecendo ao corpo mais nutrientes.
As atividades de jardinagem e de paisagismo alimentar também fazem com que as pessoas voltem a utilizar melhor seu corpo, se alongando, se abaixando, tomando sol. Rompem a doença do sedentarismo com uma atividade extremamente prazerosa e revitalizante.
Mobilizadores COEP – O que é importante fazer para que as comunidades adotem alimentação mais variada e criativa, valorizando os alimentos típicos de sua região? Pode citar exemplos?
R.: É importante colocar a mão na terra e na massa, fazer refeições junto, demonstrar na prática as delícias que estão disponíveis ou que podem se tornar disponíveis. Por exemplo: numa comunidade, uma senhora tem no seu pátio tomate de árvore. Passamos a utilizar os tomates em comidas na cozinha comunitária e o grupo reaprendeu a utilizar essa planta.
Em outro momento, utilizamos mamões verdes para uma geléia com coco e ficou uma delícia. Colhemos butiás e fazemos suco. Batemos maracujás com cenoura para suco e fazemos maionese de abacate, colhemos os chuchus e fazemos saladas ou doce. Quando se tem a disponibilidade dos recursos, torna-se mais fácil criar com eles. Esse movimento tem o intuito de envolver mais pessoas para que se tenha esses recursos disponíveis e possamos estimular este tipo de alimentação. Algo do tipo que ‘essa moda pegue’, resgatando o gosto pelo prazer da jardinagem.
Eu me tornei uma apaixonada por isso através de amigos que têm a maestria da jardinagem, como Ademar Brasileiro – Mago Jardineiro de Curitiba, Marco Krug, artista, designer, paisagista, doRecife (PE), o pessoal do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec), em Pirenópolis (GO); os jardins da Humaniversity, na Holanda. Todos são movimentos de resgate da relação do homem com o meio ambiente ao seu redor.
Entrevista para o Grupo de Combate à Fome e Segurança Alimentar
Foto: Marcio de Almeida Bueno
Paisagismo alimentar alia jardinagem à alimentação saudável
A nutricionista Claudia Lulkin, adepta de um estilo de vida em harmonia com a natureza, realiza trabalho educativo de resgate da cultura da jardinagem voltada para a alimentação num assentamento urbano na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul – o chamado paisagismo ou jardinagem alimentar. Nesta entrevista, ela esclarece o que é e quais os valores difundidos por esta prática que, de acordo com ela, deveria ser adotada não só no campo, mas também nas cidades.
Mobilizadores COEP – O que é paisagismo alimentar? Em que princípios se baseia?
R.: Paisagismo alimentar é uma proposta de se plantar, num mesmo local, plantas destinadas ao embelezamento e outras que podem fornecer alimentos, como árvores frutíferas, plantas medicinais, como guaco, boldo, camomila, e flores comestíveis como capuchinha. Em todos os lugares, em cada cantinho, em cada pedacinho que parece abandonado podemos fazer um jardim aprazível, curador, colorido, organizador do olhar. O princípio básico é embelezar como função estética, anti-estresse e incentivar a paixão pela jardinagem.
Mobilizadores COEP – De que maneira o paisagismo alimentar pode contribuir para promover a segurança alimentar, principalmente, dos mais pobres, onde os recursos e também o acesso à informação para uma alimentação saudável são mais escassos?
R.: Promover a segurança alimentar é muita pretensão, mas, ao plantarmos frutas como mamão, limão, laranja, bergamota, maracujá, pitangas, goiabas, butiás e abacate; temperos, como salsinha, cebolinha, manjericão, manjerona; e ervas medicinais como capim cidró, camomila, macela, lavanda, podemos oferecer às comunidades princípios curativos, vitaminas e minerais, que além de tudo podem ser compartilhados e dar aroma e cores à paisagem. Mesmo a jardinagem na cidade utiliza plantas de forma bem repetitiva, ou seja, com pouca diversidade e, em geral, sem função alimentar.
Mobilizadores COEP – Qual a relação entre paisagismo alimentar e permacultura? Poderia explicar a diferença entre eles?
R.: A permacultura é a prática de uma cultura permanente que engloba planejar e manter sistemas de escala humana ambientalmente sustentáveis. Em permacultura também se faz paisagismo alimentar e muito mais. Esta cultura ocupa-se de guardar água para molhar as plantas, ensina a fazer telhados verdes que também podem ter plantas alimentícias, faz casas com recursos locais. O paisagismo alimentar está dentro da permacultura, está dentro das práticas de agrofloresta, está dentro do paisagismo, da arquitetura, da agricultura urbana.
Mobilizadores COEP – Podemos aplicar o paisagismo alimentar nos grandes centros urbanos? Como seria o plantio em apartamentos?
R.: Muitas pessoas plantam suas flores e temperos em sacadas de apartamentos, em parapeitos de janelas. Os centros urbanos têm muitas áreas com espaços que podem se tornar jardins comestíveis. A princípio qualquer lugar pode receber plantas para se tornar mais agradável.
Mobilizadores COEP – Que tipo de alimentos, flores e ervas medicinais podem ser cultivados? Quais os principais cuidados que devem ser adotados?
R.: Já citei vários, mas é importante se certificar com pessoas que entendam de plantas e estudar o que pode ser plantado, para não ter problemas futuros com fios de eletricidade ou com canos que estão sob calçadas, por exemplo, caso as espécies escolhidas cresçam muito ou tenham a raiz muito grande.
Mobilizadores COEP – De que maneira podemos melhorar a nossa interação com a natureza, através dos alimentos, dentro dos grandes centros urbanos?
R.: Cada vez mais parece que as pessoas estão se dando conta da necessidade dos elementos da natureza para sua sanidade: tomar sol, respirar ar puro, sentir a brisa e o vento, ouvir a chuva, ver um lago, ver o verde, sentir os aromas. Se plantarmos jardins que também sejam comestíveis, também sentiremos sabores. É uma alimentação não só para o corpo, mas para a mente, para os olhos, para os sentidos, para o equilíbrio psicológico.
Mobilizadores COEP – Você trabalha com um assentamento urbano em São Leopoldo (RS), onde desenvolve um trabalho educativo através da jardinagem alimentar. No que consiste o trabalho e há quanto tempo vem sendo realizado? Ele já trouxe resultados? Poderia citar exemplos práticos?
R.: O assentamento urbano Vida Nova, em São Leopoldo, abriga cerca de 133 famílias que moravam às margens do Arroio Kruse e foram reassentadas pelo Projeto PAC Arroio Kruse – projeto articulado junto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vinculado ao Governo Federal, sob a coordenação da Prefeitura. O projeto visa também à regularização fundiária e a recuperação ambiental de aproximadamente 1,5 quilômetros do arroio.
Estamos começando a disseminar a ideia da criação de uma nova paisagem, de embelezar e valorizar os espaços individuais e coletivos e acrescentar princípios alimentares – jardins com ervas, com flores coloridas e curativas, com trepadeiras como guaco e bertalha, e babosa para cicatrização, por exemplo. As famílias assentadas já vinham de uma prática similar. Agora, estamos estimulando a continuidade dessas práticas e a aproximação da vizinhança, com um troca-troca de mudas, receitas e xaropes.
Mobilizadores COEP – Como a comunidade do assentamento está reagindo a este tipo de trabalho educacional? Ela participa e se envolve? De que forma?
R.: As pessoas se envolvem pelo prazer de ver os resultados, mesmo que isso tenha um tempo para se estabelecer: o tempo do crescimento das plantas. É interessante, pois o tempo urbano é da correria e a jardinagem tem o tempo das estações, das lunações e temos que esperar para ver o que acontece com as plantas. É outra dimensão.
É um trabalho ainda recente, mas esperamos envolver a comunidade e disseminar estas ideias. O método – inspirado a partir de leituras e vivências dos mestres Paulo Freire, Bill Mollison, Lucia Legan, Ademar Brasileiro e Clara Brandão; das Ongs Ingá, Flor de Ouro, Oca Brasil e Ecocentro IPEC – é da descoberta dos recursos disponíveis a cada momento, provocando rápida transformação com assimilação da idéia e da prática.
Mobilizadores COEP – Como podemos utilizar os alimentos de forma a torná-los aliados para o desenvolvimento de uma vida mais saudável e mais produtiva?
R.: Os alimentos de origem vegetal: frutas, verduras, flores, temperos têm princípios funcionais, curativos. Têm cheiros, cores, sabores verdadeiros. Se conseguimos transformar o paladar que está ficando também alterado por uma alimentação altamente processada e artificializada, estaremos oferecendo ao corpo mais nutrientes.
As atividades de jardinagem e de paisagismo alimentar também fazem com que as pessoas voltem a utilizar melhor seu corpo, se alongando, se abaixando, tomando sol. Rompem a doença do sedentarismo com uma atividade extremamente prazerosa e revitalizante.
Mobilizadores COEP – O que é importante fazer para que as comunidades adotem alimentação mais variada e criativa, valorizando os alimentos típicos de sua região? Pode citar exemplos?
R.: É importante colocar a mão na terra e na massa, fazer refeições junto, demonstrar na prática as delícias que estão disponíveis ou que podem se tornar disponíveis. Por exemplo: numa comunidade, uma senhora tem no seu pátio tomate de árvore. Passamos a utilizar os tomates em comidas na cozinha comunitária e o grupo reaprendeu a utilizar essa planta.
Em outro momento, utilizamos mamões verdes para uma geléia com coco e ficou uma delícia. Colhemos butiás e fazemos suco. Batemos maracujás com cenoura para suco e fazemos maionese de abacate, colhemos os chuchus e fazemos saladas ou doce. Quando se tem a disponibilidade dos recursos, torna-se mais fácil criar com eles. Esse movimento tem o intuito de envolver mais pessoas para que se tenha esses recursos disponíveis e possamos estimular este tipo de alimentação. Algo do tipo que ‘essa moda pegue’, resgatando o gosto pelo prazer da jardinagem.
Eu me tornei uma apaixonada por isso através de amigos que têm a maestria da jardinagem, como Ademar Brasileiro – Mago Jardineiro de Curitiba, Marco Krug, artista, designer, paisagista, doRecife (PE), o pessoal do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec), em Pirenópolis (GO); os jardins da Humaniversity, na Holanda. Todos são movimentos de resgate da relação do homem com o meio ambiente ao seu redor.
Entrevista para o Grupo de Combate à Fome e Segurança Alimentar
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